ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA: ESTUDO COM COLABORADORES DE UMA COOPERATIVA DE SAÚDE UNIMED NO BRASIL

 

Gilmar Jorge Wakulicz. http://orcid.org/0000-0001-7564-2030. Economista. Dr. Extensão Rural. Colégio Politécnico da UFSM. gilmarwakulicz@politecnico.ufsm.br.

Berenice Santini. http://orcid.org/0000-0002-5300-8917. Eng. Mecânica. Dra. Administração. Colégio Politécnico da UFSM. bsantini@politecnico.ufsm.br

Gustavo Fontinelli Rossés. http://orcid.org/0000-0001-6748-0991. Administrador. Dr. Extensão Rural. Colégio Politécnico da UFSM. gustavo@politecnico.ufsm.br

Daniela Benetti. http://orcid.org/0000-0003-4775-1859. Tecnóloga em Gestão de Cooperativas. Colégio Politécnico da UFSM. danicbenetti@yahoo.com.br

Marcelo Tomazi. https://orcid.org/0000-0001-8707-9898. Eng. Agrônomo. Tecnólogo em Gestão de Cooperativas. Cotrisel. mctomazi@hotmail.com

 

RESUMO

A alfabetização financeira envolve diversas atividades do cotidiano, promove a saúde financeira e a qualidade de vida. Ela é composta por conhecimento, atitude e comportamento financeiros. O presente estudo teve como objetivo identificar e analisar a alfabetização financeira dos colaboradores de uma das Cooperativas de Saúde Unimed situada no Sul do Brasil. Trata-se de uma pesquisa descritiva que utilizou um questionário, composto por 41 questões, como instrumento de coleta de dados. Teve como foco os construtos de “conhecimento financeiro” e de “comportamento financeiro”. A pesquisa baseou-se em dados quantitativos e utilizou técnicas estatísticas, que permitem traduzir opiniões e informações em valores numéricos, a fim de classificá-los e analisá-los. Foram obtidas noventa respostas cujos resultados demostraram que os colaboradores apresentam um nível de conhecimento financeiro satisfatório, atentando-se para as questões envolvendo contas e compromissos de crédito cujo índice elevado alerta para a propensão ao endividamento. Conclui-se que conhecer tais resultados é fundamental, pois evidencia que a saúde financeira afeta diretamente a qualidade de vida dos indivíduos.

Palavras-chave: alfabetização financeira, comportamento financeiro, conhecimento financeiro.

 

FINANCIAL LITERACY: STUDY WITH EMPLOYEES OF A UNIMED HEALT COOPERATIVE UNIT IN BRAZIL

ABSTRACT

Financial literacy involves several daily activities, promotes financial health and quality of life. It is composed of financial knowledge, attitude and behavior. The present study aimed to identify and analyze the financial literacy of employees of one of the Unimed Health Cooperatives located in southern Brazil. This is descriptive research that used a questionnaire, consisting of 41 questions, as a data collection instrument. It focused on the constructs of "financial knowledge" and "financial behavior". The research was based on quantitative data and used statistical techniques, which allow translating opinions and information into numerical values, in order to classify and analyze them. Ninety responses were obtained, the results of which demonstrated that employees have a satisfactory level of financial knowledge, paying attention to questions involving accounts and credit commitments whose high index alerts to the propensity for indebtedness. It is concluded that knowing these results is essential, as it shows that financial health directly affects the quality of life of individuals.

Keywords: financial literacy, financial behavior, financial knowledge.

 

ALFABETIZATIÓN FINANCIERA: ESTÚDIO CON EMPLEADOS DE UNA COOPERATIVA DE SALUD DE UNIMED EN BRASIL

 

RESUMEN

La educación financiera involucra varias actividades diarias, promueve la salud financiera y la calidad de vida. Se compone de conocimiento, actitude y comportamiento financiero. El presente estudio tuvo como objetivo identificar y analizar la alfabetización financiera de los empleados de una de las Cooperativas de Salud Unimed ubicadas en el sur de Brasil. Se trata de una investigación descriptiva que utilizó un cuestionario, compuesto por 41 preguntas, como instrumento de recolección de datos. Se centró en los constructos de "conocimiento financiero" y "comportamiento financiero". La investigación se basó en datos cuantitativos y utilizó técnicas estadísticas, que permiten traducir opiniones e información en valores numéricos, con el fin de clasificarlos y analizarlos. Se obtuvieron  noventa respuestas, cuyos resultados demonstraron que los empleados tienen un nivel satisfactorio de conocimiento financiero, prestando atención a cuestiones relacionadas con cuentas  y compromissos crediticios  cuyo alto índice alerta sobre la propensión al endeudamiento. Se concluye que conocer estos resultados es fundamental, ya que muestra que la salud financiera afecta directamente la calidad de vida de los individuos.

Palabras clave: alfabetización financeira, comportamiento financeiro, conocimientos financieros.

 

 

1 Introdução

Indivíduos financeiramente alfabetizados tendem a planejar o futuro, adquirir bens de acordo com sua necessidade e renda e organizar o orçamento familiar com base na sua capacidade financeira. E à medida que essa gestão financeira toma proporções coletivas, torna-se um instrumento importante na promoção do desenvolvimento econômico.

O reconhecimento da importância da gestão financeira tem suscitado o aprofundamento dos estudos sobre o tema. Os governos e as instituições de modo geral estimulam a criação de programas que buscam elevar o nível de conhecimento financeiro da população.  No Brasil, o Decreto 7.397, (Brasil, 2010) instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF, com o intuito de promover a educação financeira e fortalecer a cidadania, auxiliando o cidadão na tomada de decisões conscientes e levando o sistema financeiro nacional a adquirir maior eficiência e solidez. Conforme o Banco Central do Brasil (BCB, 2019) há no país um programa gratuito sobre cidadania financeira, cujo objetivo é a inclusão financeira do indivíduo, oferecendo variados cursos online, inclusive sobre a gestão das finanças pessoais. Este programa trata de assuntos como a relação dos indivíduos com o dinheiro, orçamento pessoal ou familiar, crédito, causas e consequências do endividamento, consumo planejado e consciente, poupança e investimento. Além disso, permite entender riscos financeiros e medidas de prevenção e proteção consideradas adequadas para cada situação.

Mesmo assim, parece que a maior parte da população não busca informações com o intuito de auxiliar na gestão de suas finanças, tampouco se reúnem com os membros da família para discutir sobre implementação ou análise do orçamento familiar. A falsa sensação de domínio do conhecimento financeiro relaciona-se com excesso de confiança que, para Zerrenner (2007) apud Ribeiro et al. (2009, p. 6) “é um viés que faz com que as pessoas se endividem substancialmente, pois estes subestimam a probabilidade que eventos negativos que interrompam sua renda futura aconteçam, tais como a perda do emprego ou redução substancial da renda”. Sem tais conhecimentos, os indivíduos ficam mais propensos ao endividamento, ao comprometimento da renda com o pagamento de multas e juros e à perda de patrimônio. Tudo isso afeta diretamente o bem-estar e a qualidade de vida das famílias, dado que “o bem-estar das pessoas está diretamente ligado à sua saúde financeira” (Hissa, 2009, p. 4).

O planejamento financeiro individual tem como propósito auxiliar o indivíduo a adequar o rendimento familiar às suas necessidades, eliminar gastos supérfluos, planejar compras futuras, realizar objetivos de vida e enfrentar com maior tranquilidade eventuais problemas. Já, “a alfabetização financeira é um fenômeno complexo, multifacetado, direta e indiretamente determinante de outros fatores comportamentais [...]” (Potrich, 2016, p. 28). Para Matta (2007, p. 4) “para que haja sucesso nas ações de educação financeira da população, é necessário que se conheça o quanto as pessoas sabem sobre as finanças pessoais e quais as suas demandas informacionais sobre o tema”.

Diante destas considerações, o presente estudo tem como objetivo identificar e analisar a alfabetização financeira dos colaboradores de uma Cooperativa de Saúde Unimed em relação às suas finanças pessoais. O foco foi dedicado à compreensão quanto ao conhecimento e ao comportamento dos respondentes, em relação às suas finanças pessoais.

 

2 Referencial teórico

Para subsidiar o estudo, procedeu-se a conceituação de alfabetização financeira em termos de suas dimensões, que são as atitudes, o conhecimento e o comportamento financeiros.

 

2.1 Alfabetização financeira

A alfabetização financeira é a melhor forma de preparar as pessoas para a gestão financeira pessoal. Essa expressão engloba um conjunto amplo de aspectos, não possui na literatura uma definição única e simples e tem sido frequentemente utilizada como sinônimo de educação financeira (Potrich, 2016).

O presente estudo adota para a expressão alfabetização financeira e outras de interesse deste estudo as definições desenvolvidas pela Organisation for Economic Co-Operation and Development (OECD), que e mensura a alfabetização financeira em três dimensões: a educação financeira ou conhecimento financeiro, o comportamento financeiro e a atitude financeira (Potrich, 2016). Portanto, a propósito da comparação entre alfabetização e educação financeira, considera-se essa última como uma das dimensões da primeira, aquela que remete ao conhecimento na área financeira. 

Segundo a OECD (2015a), a alfabetização financeira é uma combinação de consciência, conhecimento, habilidade, atitude e comportamento necessários para tomar decisões financeiras sólidas e alcançar o bem-estar financeiro individual. Potrich (2016), afirma que as definições de alfabetização financeira da OECD (2015a e 2015b) revelam uma interligação entre suas dimensões, onde “o conhecimento financeiro é a ferramenta que coordena as atitudes dos indivíduos, as quais, por sua vez, influenciam o comportamento de gestão financeira” (Potrich, 2016, p. 37). Assim, torna-se necessário entender as dimensões do conhecimento, das atitudes e do comportamento financeiros.

O conhecimento financeiro é a capacidade de um indivíduo compreender as informações financeiras vinculadas às transações operacionais (Huston, 2010). Ele é desenvolvido através das interações, ao transmitir e ao receber informações em grupo, não restringindo-se à capacidade de conferir contas bancárias ou de construir orçamentos para poupança futura, mas sim a ter uma visão sistêmica de todas as decisões de crédito, poupança, investimento e consumo, compatíveis com a sua realidade financeira (Oliveira, 2012).

A atitude financeira é uma dimensão que, influenciada pelo conhecimento financeiro, permite aos indivíduos gerenciarem eficazmente os recursos monetários (Xiao et al., 2011 apud Potrich, 2016). Ela pode ser desenvolvida por meio de sentimentos, emoções ou opiniões momentâneas ou ainda, evoluir para uma posição habitual, que pode influenciar no longo prazo o comportamento de alguém. Potrich (2016) alerta para pesquisas que demonstram que a formação ou a mudança de atitude financeira pode estar sujeita a estímulos contextuais, e que atitudes financeiras decorrentes do uso do dinheiro se estabelecem pelas experiências de cada indivíduo. Dessa forma, a atitude financeira assume caráter pessoal e contextual, tornando-a um construto menos sujeito a modelagem e a previsões.

Mas não basta ter conhecimento e atitude para ter estabilidade financeira. É preciso ainda dominar a terceira dimensão da alfabetização financeira, que é o comportamento. Para a OECD (2015a; 2015b), o comportamento financeiro é essencial e ainda mais importante do que as dimensões anteriores e representa a maneira como os indivíduos lidam com o dinheiro em suas vidas. É ele que concretiza o equilíbrio ou o desequilíbrio financeiro, tornando positivos os resultados da alfabetização financeira (Atkinson e Messy, 2015). Mundy (2011) afirma que há cinco aspectos que demonstram que o comportamento financeiro é adequado: honrar com despesas mensais, ter sob controle as finanças, planejar o futuro, fazer escolhas assertivas de produtos financeiros e manter-se atualizado com relação às questões financeiras. 

Sendo vital para a efetiva gestão do dinheiro e do planejamento de longo prazo, a alfabetização financeira facilita a inclusão financeira dos indivíduos, podendo melhorar significativamente seu bem-estar financeiro (Atkinson e Messy, 2015).

Em seu estudo, Potrich (2016) mostra um levantamento de obras/autores que mensuram a alfabetização financeira por meio do conhecimento financeiro, como se ela fosse limitada a essa dimensão. A partir daí, faz uma discussão sobre a forma mais adequada de fazer essa mensuração, constrói e aplica um questionário que quantifica a alfabetização a partir das suas três dimensões (segundo a OECD), que são o conhecimento, a atitude e o comportamento financeiros.

Segundo o modelo de Potrich (2016), a alfabetização financeira está relacionada direta e indiretamente aos fatores comportamentais referentes ao materialismo, compras compulsivas e a propensão ao endividamento.

O materialismo se manifesta quando os valores materiais superam os éticos e morais. O consumo se dá através do que os outros possuem e não devido aquilo que é necessário para realizar os seus sonhos e desejos. Pode-se destacar que indivíduos materialistas tendem a acompanhar as demandas de consumo, com isso, comprando de forma compulsiva recorrendo a crediário e muitas vezes a empréstimos, alocando indevidamente os seus recursos e ficando mais suscetíveis ao endividamento (Potrich, 2016).

Em relação às compras compulsivas, de modo geral, pode-se defini-la como “a tendência a comprar de forma repetitiva e crônica, que se torna uma resposta primária a eventos ou sentimentos negativos” (O’Guinn e Faber, 1989, p. 155). Da mesma forma, fica evidente que indivíduos com comportamento compulsivo também estão mais propensos ao endividamento, uma vez que suas aquisições, muitas vezes desnecessárias e oriundas do materialismo, comprometem o seu orçamento (Potrich, 2016).

A educação financeira torna-se fundamental para que os indivíduos entendam as práticas básicas para a gestão financeira pessoal. Ao adotarem uma conduta financeira adequada, ou seja, terem o entendimento/conhecimento das suas finanças pessoais, e efetivamente utilizarem este, os indivíduos reduzem as chances de incidirem num comportamento materialista e compulsivo, o que acaba por impactar positivamente na redução da contração de dívidas.

 

3 Metodologia

Trata-se de pesquisa descritiva, pois “têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis” (Gil, 2002, p. 42).  A pesquisa baseou-se em dados quantitativos e utilizou técnicas estatísticas, que permitem traduzir opiniões e informações em valores numéricos, a fim de classificá-los e analisá-los (Malhotra, 2006).

O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário, que Marconi e Lakatos (2009) afirmam servir na obtenção de dados primários, a partir de uma série ordenada de perguntas, que podem ser respondidas sem a presença do entrevistador.  O questionário formulado e validado por Potrich (2016) foi adaptado para o presente estudo, a fim de possibilitar a identificação e a avaliação dos comportamentos, dos conhecimentos financeiros e do perfil dos respondentes. O instrumento restou composto por quarenta e uma questões objetivas que buscaram dados para entender os aspectos descritos no Quadro 1.

 

Quadro 1

Descrição do instrumento de coleta de dados

Aspectos

Questões

Renda e utilização de cartão de crédito

1 e 6

Gestão dos recursos financeiros

2-5

Perfil dos gastos e pagamentos

7-8

Comportamento financeiro (controle e poupança)

9-21

Conhecimento Financeiro (básico e avançado)

22-31

Perfil dos respondentes

1-10 (parte II)

Fonte: Elaborado pelos autores (2020).

 

O questionário foi organizado em duas partes, sendo a primeira composta por 31 questões e a segunda por mais 10 questões. Na primeira parte, as oito primeiras questões objetivam identificar: qual a fonte de renda da unidade familiar do respondente; quem seria o responsável por prover os recursos familiares; qual o nível de conhecimento do respondente sobre gerenciamento de dinheiro; qual o seu grau de satisfação quanto a sua situação financeira; como são os seus gastos em relação a renda; e como lidam com o crédito. As 13 questões seguintes buscam entender o comportamento financeiro e as 10 restantes representam o conhecimento financeiro dos respondentes. A segunda parte do questionário compõe-se de dez questões referentes ao perfil do respondente.

A aplicação do referido questionário ocorreu em junho de 2019 para um público alvo composto por cem colaboradores Sede Administrativa da Cooperativa de Saúde Unimed, situada no município de Santa Maria, no Sul do Brasil. Foram respondidos 90 dos 100 questionários enviados.

A análise dos dados se deu através da estatística descritiva, visando caracterizar a amostra e descrever os aspectos elencados no Quadro 1. A estatística descritiva tem como finalidade resumir a poucos números o conjunto de todos os dados coletados em uma dada investigação. Ela envolve basicamente distribuições de frequências e representações tabelares e gráficas, medidas de tendência central, dispersão, dentre outros. Esta técnica de análise dos resultados é importante, uma vez que sintetiza os valores de mesma natureza e os coloca de forma organizada para uma fácil compreensão dos resultados.

 

4 Resultados e análises

Essa seção tem como finalidade apresentar os principais resultados da pesquisa e analisá-los, tendo como base os estudos realizados anteriormente e citados no capítulo de referencial teórico.

A fim de garantir a compreensão adequada dessa discussão, segmentou-se os resultados de acordo com os aspectos de investigação expostos no quadro X. Eles foram organizados nas subseções a seguir, iniciando-se pela parte II (perfil dos respondentes), com o intuito de facilitar a compreensão dos leitores. Em todas as tabelas, os percentuais considerados correspondem ao percentual válido de respondentes. Ao todo foram 90 respondentes que participaram da pesquisa, todos colaboradores da Unimed do município de Santa Maria.

 

4.1 Perfil dos respondentes

A parte II do questionário refere-se ao perfil dos respondentes. As dez questões e os resultados obtidos estão sumarizados na Tabela 1.

 

Tabela 1

Perfil dos respondentes

Objeto e alternativas das questões

Frequência

Percentual

Gênero

Masculino

20

22,2%

Feminino

70

77,8%

Faixa Etária

Até 23 anos

9

10,0%

De 24 a 31 anos

23

25,6%

De 32 a 45 anos

36

40,0%

Mais de 45 anos

22

24,4%

Estado Civil

Solteiro(a)

37

41,1%

Casado(a)

44

48,9%

Separado(a)

5

5,6%

Viúvo(a)

4

4,4%

Estudante

Não

62

68,9%

Sim

28

31,1%

Dependentes

Não

36

40,0%

Sim

54

60,0%

Escolaridade

Ensino fundamental

-

-

Ensino médio

10

11,1%

Curso técnico

14

15,6%

Ensino superior

38

42,2%

Especialização ou MBA

26

28,9%

Pós-Graduação Stricto Sensu

2

2,2%

Escolaridade dos pais

Ensino fundamental

38

42,2%

Ensino médio

31

34,4%

Curso técnico

4

4,4%

Ensino superior

11

12,2%

Especialização ou MBA

4

4,4%

Pós-Graduação Stricto Sensu

2

2,2%

Fonte: Dados do estudo (2019).

 

A Tabela 1 mostra que a maioria dos respondentes (77,8%) são do gênero feminino e apenas 22,2% são do gênero masculino. A maioria dos respondentes está na faixa etária dos 32 a 45 anos (40,0%). Os casados representam 48,9% e os solteiros 41,1% (amostra mais equilibrada nesse quesito). Quanto a possuir dependentes, a maioria reportou que sim (60,0%).

Ao questionamento sobre ocupação, 93,3% responderam serem empregados assalariados e 6,7% responderam “outros”. Esse percentual de “outros” pode representar os estagiários contratados para atuar nos mais diversos setores da cooperativa.

A grande maioria dos respondentes não está estudando (68,9%). Quanto ao grau de escolaridade, 42,2% concluíram o ensino superior e 28,9% possuem curso de pós-graduação. Entre os pais dos respondentes, 42,2% possuem ensino fundamental e 34,4% possuem ensino médio completo. Percebe-se que o nível de escolaridade dos respondentes é sensivelmente maior do que o nível de seus pais. Esta é uma variável socioeconômica interessante e que evidencia, conforme Messy e Monticone (2016), que baixos níveis de estudo possuem relação com baixos níveis de alfabetização financeira. Em sentido inverso, Scheresberg (2013), em seus estudos, verificou que os indivíduos com maior grau de escolaridade apresentam maior nível de alfabetização financeira, e esta diferença se acentua entre os que possuem um diploma universitário e curso de pós-graduação, em relação àqueles que possuem níveis menores de educação.

 

4.2 Renda e utilização de cartão de crédito

Duas questões fizeram referência à renda e à utilização de cartão de crédito pelos respondentes. Os dados estão expressos na Tabela 2.

 

Tabela 2

Perfil da renda e utilização de cartão de crédito dos respondentes

Objeto e alternativas das questões

Frequência

Percentual

Renda própria

Não possuo renda própria

-

-

Até R$ 998,00

6

6,7%

Entre R$ 998,01 e R$ 1.996,00

18

20,0%

Entre R$ 1.996,01 e R$ 2.994,00

29

32,2%

Entre R$ 2.994,01 e R$ 3.992,00

17

18,9%

Entre R$ 3.992,01 e R$ 5.998,00

12

13,3%

Entre R$ 5.998,01 e R$ 7.984,00

2

2,2%

Entre R$ 7.984,01 e R$ 9.980,00

3

3,3%

Acima de R$ 9.980,01

3

3,3%

Renda familiar

Até R$ 998,00

1

1,1%

Entre R$ 998,01 e R$ 1.996,00

5

5,6%

Entre R$ 1.996,01 e R$ 2.994,00

17

18,9%

Entre R$ 2.994,01 e R$ 3.992,00

21

23,3%

Entre R$ 3.992,01 e R$ 5.998,00

18

20,0%

Entre R$ 5.998,01 e R$ 7.984,00

10

11,1%

Entre R$ 7.984,01 e R$ 9.980,00

7

7,8%

Acima de R$ 9.980,01

11

12,2%

Principal fonte de renda

 

Salário

86

95,6%

Aposentadoria ou pensão

3

3,3%

Benefícios ou subsídios do governo

-

-

Ganhos próprios ou provenientes do negócio da família

-

-

Auxílio de membros da família que não vivem em casa

1

1,1%

Auxílio de outra(s) pessoa(s)

-

-

Do total de cartões de crédito que você possui, quantos está utilizando no momento?

Nenhum

2

2,2%

01 cartão de crédito

61

67,8%

02 cartões de crédito

22

24,4%

03 cartões de crédito

4

4,4%

04 cartões de crédito

-

-

05 ou mais cartões de crédito

1

1,1%

Fonte: Dados do estudo (2019).

 

A maioria dos respondentes (32,2%) declararam que sua renda própria estava entre R$ 1.996,01 e R$ 2.994,00, 20,0% que estava entre R$ 998,00 e R$ 1.996,00 e 18,9% entre R$ 2.994,01 e R$ 3.992,00. Quanto à renda familiar, a maioria (23,3%) estava no intervalo de R$ 2.994,01 a R$ 3.992,00, sendo que os dois intervalos próximos a esse (anterior e posterior) tiveram percentuais bem próximos, de 18,9% no intervalo entre R$ 1.996,01 e R$ 2.994,00 e de 20,0% entre R$ 3.992,01 e R$ 5.998,00. Pode-se observar que a renda familiar é sensivelmente mais alta do que a renda própria individual. O salário vem em primeiro lugar como a principal fonte de renda dos colaboradores (95,6%).

Em relação ao cartão de crédito, 67,8% indicaram que fazem uso de um cartão, enquanto 24,4% possuem dois cartões em uso. Potrich (2016), em seu estudo com uma amostra de 2.487 indivíduos, observou que 73,62% dos respondentes afirmaram que a sua principal fonte de renda é proveniente do salário, e, em relação ao uso do cartão de crédito, 40,86% afirmaram utilizar apenas um cartão de crédito. Uma justificativa para a diferença em relação ao uso de somente um cartão de crédito pode estar no nível de escolaridade da população pesquisada. Vimos que, nesta pesquisa, 73,3% dos respondentes possuem graduação, pós-graduação ou MBA e Pós-Graduação Stricto Sensu, enquanto no estudo de Potrich (2016), 35,14% dos respondentes estão contemplados nestes níveis de escolaridade, e 55,11% possuem ensino fundamental ou médio.

 

4.3 Gestão dos recursos financeiros

Quatro questões buscaram representar o perfil do gerenciamento financeiro dos respondentes. Os dados estão expressos na Tabela 3.

 

Tabela 3

Perfil do gerenciamento financeiro dos respondentes

Objeto e alternativas das questões

(Frequência)

Percentual

Quem é responsável por prover recursos para o pagamento das contas na sua família?

 

Você.

(19) 21,1%

Você e seu(sua) parceiro(a).

(47) 52,2%

Seu(sua) parceiro(a).

(-) -

Você e outro membro da família.

(15) 16,7%

Seus pais.

(9) 10,0%

Outro membro da família.

(-) -

Em comparação com as outras pessoas que você conhece, o quanto você sabe como gerir seu dinheiro?

Mais do que a maioria.

(34) 37,8%

O mesmo que a maioria.

(47) 52,2%

Menos do que a maioria.

(5) 5,6%

Não sei.

(4) 4,4%

Onde você mais aprendeu sobre como gerir o seu dinheiro?

Em casa com minha família.

(40) 44,4%

Na escola ou na faculdade.

(10) 12,2%

Em cursos.

(4) 4,4%

Nas conversas com meus amigos.

(4) 4,4%

Na internet, revistas, livros, TV ou rádio.

(5) 5,6%

Sozinho, nas experiências ao gerir meu dinheiro.

(25) 27,8%

Outros.

(1) 1,1%

No geral, considerando seus bens, dívidas e poupança, quanto satisfeito você está com sua situação financeira?

Totalmente insatisfeito.

(-) -

Insatisfeito.

(19) 21,1%

Indiferente.

(3) 3,3%

Satisfeito.

(63) 70,0%

Totalmente satisfeito.

(5) 5,6%

Fonte: Dados do estudo (2019).

 

A maior parte dos respondentes (52,2%) destacam que a responsabilidade pela geração da renda familiar é a combinação de sua renda com a de seu(sua) parceiro(a) e mais 16,7% afirmaram que assumem essa responsabilidade junto com a outro membro da família, que não o(a) parceiro(a). Somando-se esses percentuais, tem-se que 69,9% dos respondentes não são os únicos membros da família a gerar renda. Apenas 21,1% dos colaboradores afirmam serem os únicos responsáveis. Destaca-se que alguns desses resultados confirmam os achados de Potrich (2016), que verificou que 40,13% dos indivíduos da sua amostra tinha responsabilidade pela geração da renda familiar combinada com seu(sua) parceiro(a).

No que tange ao conhecimento em gerenciar seu dinheiro, 52,2% julgam saber o mesmo que a maioria, enquanto que 37,8% alegam saber mais que a maioria. Potrich (2016) obteve resultado similar, com 49,20% dos respondentes julgando saber o mesmo que a maioria. 

Quando questionados sobre a maneira pela qual aprenderam a realizar esse gerenciamento, 44,4% afirmaram ter aprendido em casa com a família. Já para outros colaboradores (27,8%), as experiências individuais resultaram em conhecimento para gerir os recursos. Por último, os colaboradores foram questionados sobre o grau de satisfação quanto à sua situação financeira, considerando seus bens, dívidas e poupança, onde 70,0% afirmaram estar satisfeitos, enquanto 21,1% declararam estar insatisfeitos.

 

4.4 Perfil dos gastos e pagamentos

Duas questões buscaram representar o perfil dos gastos e pagamentos dos respondentes. Os dados estão expressos na Tabela 4.

 

Tabela 4

Perfil dos gastos e pagamentos dos respondentes

Objeto e alternativas das questões

(Frequência)

Percentual

Com relação aos seus gastos, você diria que...

Gasto mais do que ganho.

(18) 20,0%

Gasto igual ao que ganho.

(31) 34,4%

Gasto menos do que ganho.

(41) 45,6%

Qual das seguintes afirmações melhor descreve o quão bem você (e/ou sua família) está(ão) acompanhando atualmente as suas contas e compromissos de crédito?

Não possuo/não possuímos contas ou compromissos de crédito.

(5) 5,6%

Eu estou/nós estamos pagando todas as contas e compromissos, sem quaisquer dificuldades.

(37) 41,1%

Eu estou/nós estamos pagando todas as contas e compromissos, com algumas dificuldades.

(43) 47,8%

Eu estou/nós estamos pagando todas as contas e compromissos, com muitas dificuldades.

(-) -

Eu estou/nós estamos deixando em atraso algumas contas ou compromissos de crédito.

(4) 4,4%

Eu estou/nós estamos com sérios problemas financeiros, atrasando contas e compromissos de crédito.

(1) 1,1%

Não sei.

(-) -

Fonte: Dados do estudo (2019).

 

Referente à renda obtida, 45,6% dos colaboradores dizem gastar menos do que ganham, seguidos daqueles que gastam igual ao que ganham (34,4%) e mais do que ganham (20,0%). Esses resultados assemelham-se aos achados de Potrich (2016), onde 42,61% dos indivíduos disseram gastar menos do que ganhavam, 36,54% afirmam gastar igual ao que ganham, e 20,84% afirmaram gastar mais do que ganham.

Quando indagados de quão bem estão acompanhando as contas e os compromissos de crédito, 47,8% afirmaram estar pagando todas as contas e compromissos com algumas dificuldades, seguidos daqueles que conseguem pagar todas as contas e compromissos sem quaisquer dificuldades (41,1%). Esses resultados parecem coerentes com os anteriores, constituindo um cenário positivo onde predomina o controle dos gastos e a honra dos compromissos de pagamentos.

 

4.5 Comportamento financeiro (Controle e poupança)

Seguiram-se treze proposições sobre o comportamento financeiro, referentes ao controle e à poupança. Os resultados obtidos estão expressos na Tabela 5.

 

Tabela 5

Perfil quanto ao comportamento financeiro dos respondentes

Proposições

Freq.

*N

Freq.

*Q. N.

Freq.

*À. V.

Freq.

*Q. S.

Freq.

*S.

Controle

 

 

 

Controle

 

 

 

 

 

Anoto e controlo os meus gastos pessoais (Ex.: planilha de receita e despesas mensais).

(13)

14,4%

(4)

4,4%

(23)

25,6%

(23)

25,6%

(27)

30,0%

Comparo preços ao fazer uma compra.

(1)

1,1%

(2)

2,2%

(17)

18,9%

(25)

27,8%

(45)

50,0%

Tenho um plano de gastos/orçamento.

(10)

11,1%

(16)

17,8%

(16)

17,8%

(23)

25,6%

(25)

27,8%

Consigo identificar os custos que pago ao comprar um produto no crédito.

(4)

4,4%

(6)

6,7%

(16)

17,8%

(25)

27,8%

(39)

43,3%

Pago minhas contas em dia.

(1)

1,1%

(3)

3,3%

(5)

12

(26)

28,9%

(55)

61,1%

Eu analiso minhas contas antes de fazer uma compra grande.

(2)

2,2%

(1)

1,1%

(10)

11,1%

(20)

22,2%

(57)

63,3%

Eu pago as contas do cartão de crédito integralmente para evitar cobrança de juros.

(2)

2,2%

(1)

1,1%

(2)

2,2%

(8)

8,9%

(77)

85,6%

Poupança

Faço uma reserva do dinheiro que recebo mensalmente para uma necessidade futura.

(12)

13,3%

(11)

12,2%

(29)

32,2%

(15)

16,7%

(23)

25,6%

Eu guardo parte da minha renda todo mês.

(16)

17,8%

(16)

17,8%

(23)

25,6%

(14)

15,6%

(21)

23,3%

Poupo regularmente para atingir objetivos financeiros a longo prazo como: educação dos meus filhos, aquisição de uma casa, aposentadoria.

(15)

16,7%

(15)

16,7%

(21)

23,3%

(18)

20,0%

(21)

23,3%

Eu passo a poupar mais quando recebo um aumento salarial.

(5)

5,6%

(13)

14,4%

(33)

36,7%

(25)

27,8%

(14)

15,6%

Possuo uma reserva financeira igual ou maior a três vezes as minhas despesas mensais, que pode ser resgatada rapidamente.

(29)

32,2%

(19)

21,1%

(19)

21,1%

(14)

15,6%

(9)

10,0%

Nos últimos 12 meses tenho conseguido poupar dinheiro.

(18)

20,0%

(15)

16,7%

(27)

30,0%

(15)

16,7%

(15)

16,7%

*N.: nunca; Q. N.: quase nunca; A. V.: às vezes; Q. S.: quase sempre; S.: sempre

Fonte: Dados do estudo (2019).

 

Observa-se que 30,0% dos respondentes disseram que sempre anotam e controlam os seus gastos, ao passo que 25,6% o fazem às vezes ou quase sempre. Ao realizar uma compra, 50,0% dos respondentes afirmaram sempre comparar os preços, enquanto 27,8% quase sempre comparam. No item plano de gastos/orçamento, 27,8% dizem possuir um plano, 25,6% quase sempre possuem. 43,3% afirmaram sempre conseguir realizar a identificação dos custos dos produtos ao realizarem compras e 27,8% responderam que quase sempre conseguem. Para a proposição do pagamento em dia das contas, 61,1% dos respondentes afirmaram que sempre o fazem e 28,9% responderam que quase sempre. A cautela dos respondentes fica evidente quando 63,3% afirmam que analisam as contas antes de fazer uma compra grande e quando 85,6% dizem que pagam integralmente a fatura do cartão de crédito a fim de evitar a incidência de juros. Esses resultados mostram que no que se refere a controle os respondentes demonstram comportamento bem positivo, tendo todas as proposições obtido maior percentual na resposta “sempre”. 

Quanto ao aspecto de poupança, 32,2% afirmaram somente às vezes realizar uma reserva do dinheiro para prevenir uma necessidade futura, 25,6% sempre realizam, enquanto 13,3% nunca o fazem. Do mesmo modo, 25,6% às vezes guardam mensalmente parte da renda, e 17,8% nunca guardam dinheiro algum. Diante da variável poupar para alcançar os objetivos a longo prazo, 23,3%, coincidentemente, afirmaram poupar sempre e às vezes, 16,7% nunca poupam, enquanto 36,7% afirmaram que somente às vezes poupam mais ao receber aumento salarial. Referente a manter uma reserva financeira que lhes permita resgatar rapidamente seus recursos (liquidez), 32,2% afirmaram nunca terem feito tal reserva, enquanto somente 10,0% sempre a fazem. Quando questionados se nos últimos doze meses conseguiram poupar, 30,0% afirmaram que às vezes conseguem, 20,0% nunca, e 16,7% sempre conseguem. Os maiores percentuais de respostas nessas proposições de poupança estão na coluna intermediária, da resposta “às vezes”, indicando que o comportamento nesses aspectos é menos positivo do que o comportamento nos aspectos de controle.

 

4.6 Conhecimentos financeiros (básico e avançado)

As dez questões seguintes buscaram identificar o conhecimento financeiro básico e avançado dos colaboradores. A tabela 6 organiza as cinco questões e os dados obtidos sobre conhecimento financeiro básico.

 

Tabela 6

Perfil quanto ao conhecimento financeiro básico dos respondentes

Questões

Alternativas

(Frequência) Percentual

Suponha que você tenha R$ 100,00 em uma conta poupança a uma taxa de juros de 10% ao ano. Depois de 5 anos, qual o valor que você terá na poupança? Considere que não tenha sido depositado nem retirado dinheiro.

*Mais do que R$ 150,00.

(40) 44,4%

Exatamente R$ 150,00.

(33) 36,7%

Menos do que R$ 150,00.

(4) 4,4%

Não sei.

(13) 14,4%

Imagine que a taxa de juros incidente sobre a sua conta poupança seja de 6% ao ano e a taxa de inflação seja de 10% ao ano. Após 1 ano, o quanto você será capaz de comprar com o dinheiro dessa conta? Considere que não tenha sido depositado nem retirado dinheiro.

Mais do que hoje.

(15) 16,7%

Exatamente o mesmo.

(4) 4,4%

*Menos do que hoje.

(46) 51,1%

Não sei.

(25) 27,8%

Suponha que você realizou um empréstimo de R$ 10.000,00 para ser pago após um ano e o custo total com os juros é R$ 600,00. A taxa de juros que você irá pagar nesse empréstimo é de...

 

0,30%.

(-) -

0,60%.

(7) 7,8%

3%.

(2) 2,2%

*6%.

(62) 68,9%

Não sei.

(19) 21,1%

Suponha que você viu um mesmo televisor em duas lojas diferentes pelo preço inicial de R$ 1.000,00. A loja A oferece um desconto de R$ 150,00, enquanto a loja B oferece um desconto de 10%. Qual a melhor alternativa?

*Comprar na loja A (desconto de R$ 150,00).

(80) 88,9%

Comprar na loja B

(desconto de 10%).

(-) -

Não sei.

(10) 11,1%

Imagine que cinco amigos recebem uma doação de R$ 1.000,00 e precisam dividir o dinheiro igualmente entre eles. Quanto cada um vai obter?

R$ 100,00.

-

*R$ 200,00.

(83) 92,2%

R$ 1.000,00.

(3) 3,3%

R$ 5.000,00.

-

Não sei.

(4) 4,4%

*Resposta correta da questão.

Fonte: Dados do estudo (2019).

 

As cinco questões da Tabela 6 trazem situações hipotéticas e requerem conhecimentos financeiros básicos sobre taxas de juros, valor do dinheiro no tempo, empréstimos e descontos. As respostas corretas estão em negrito na tabela. Observa-se que em todas as questões o maior percentual de respondentes escolheu a resposta correta. Na ordem em que aparecem as perguntas, os percentuais de acerto foram de 44,4%, 51,1%, 68,9%, 88,9% e 92,2%. No estudo realizado por Potrich (2016), as pesquisas referentes aos conhecimentos financeiros básicos atingiram resultados relativamente semelhantes, com 44,52% de acertos na primeira questão, 52,90% na segunda, 52,25% na terceira, 80,61% na quarta, e 84,46% na quinta.

Interessante observar que os percentuais de resposta “não sei” variaram de 4,4% (última questão, de divisão simples) a 27,8% (segunda questão, sobre inflação, ou valor do dinheiro no tempo). Uma amplitude grande de variação de 23,4 pontos percentuais, sugerindo discrepâncias relevantes no conhecimento dos temas das questões consideradas de conhecimento financeiro básico.

Os dados sobre conhecimento financeiro avançado foram coletados por meio de cinco questões e estão expressos na Tabela 7.

 

Tabela 7

Perfil quanto ao conhecimento financeiro avançado dos respondentes

Questões

Alternativas

(Frequência) Percentual

Considerando-se um longo período de tempo (ex.: 10 anos), qual ativo, normalmente, oferece maior retorno?

Poupança.

(8) 8,9%

*Ações.

(24) 26,7%

Títulos públicos.

(25) 27,8%

Não sei.

(33) 36,7%

Normalmente, qual ativo apresenta maiores oscilações ao longo do tempo?

Poupança.

(1)    1,1%

*Ações.

(56) 62,2%

Títulos públicos.

(2) 2,2%

Não sei.

(31) 34,4%

Quando um investidor distribui seus investimentos entre diferentes ativos, o risco de perder dinheiro...

Aumenta.

(8) 8,9%

*Diminui.

(50) 55,6%

Permanece inalterado.

(2) 2,2%

Não sei.

(30) 33,3%

Um empréstimo com duração de 15 anos normalmente exige pagamentos mensais maiores do que um empréstimo de 30 anos, mas o total de juros pagos ao final do empréstimo será menor. Essa afirmação é...

*Verdadeira.

(59) 65,6%

Falsa.

(17) 18,9%

Não sei.

(14) 15,6%

Um investimento com alta taxa de retorno terá uma alta taxa de juros. Essa afirmação é:

*Verdadeira.

(59) 65,6%

Falsa.

(8) 8,9%

Não sei.

(23) 25,6%

*Resposta correta da questão.

Fonte: dados do estudo (2019).

 

Na primeira questão, sobre quais ativos normalmente oferecem o maior retorno em um longo período de tempo, os percentuais de respostas foram mais próximos entre si: 36,7% não souberam responder (índice muito próximo ao encontrado por Potrich (2016), que foi de 37,33%), 27,8% julgaram ser os títulos públicos (resposta incorreta), enquanto 26,7% responderam que as ações são as mais rentáveis (resposta correta). A maior parte dos respondentes não acertou a resposta, sugerindo pouco conhecimento sobre investimento em ativos. Essa observação está de acordo com os achados sobre poupança, expressos no perfil quanto ao comportamento financeiro dos respondentes (Tabela 5), que indica tímida propensão a formação de reservas e a investimentos entre os componentes da amostra.

Nas quatro últimas questões, o maior percentual de respondentes escolheu a resposta correta. Na ordem em que aparecem, os percentuais de acerto foram de 62,2%, 55,6%, 65,6 % e 65,6% novamente. Dessas, duas referem-se a variações do valor de ativos, uma a empréstimos e uma diz respeito à taxas de retorno (juros). Destaca-se, mais uma vez, que alguns índices semelhantes foram identificados por Potrich (2016) em seu estudo. Para as questões dois (que trata da oscilação dos ativos ao longo do tempo) e três (que se refere ao risco dos ativos), responderam corretamente 58,90% e 45,98%, respectivamente. Por fim, para as duas últimas questões de verdadeiro ou falso, a quarta e a quinta, os percentuais atingiram 55,31% e 63,81%, respectivamente (Potrich, 2016).

Nas questões sobre conhecimento financeiro avançado, os percentuais de resposta “não sei” variaram de 15,6% (penúltima questão, sobre empréstimos) a 36,7% (primeira questão, sobre ativos para investimento). A amplitude de variação aqui foi de 21,1 pontos percentuais, um valor próximo ao encontrado nos valores da tabela anterior. Novamente, os dados sugerem discrepâncias relevantes no conhecimento entre os temas das questões consideradas de conhecimento financeiro avançado.

Considera-se, a partir desses resultados, que a maioria dos respondentes demonstrou ter bons conhecimentos financeiros básicos e avançados (embora estes um pouco menos do que aqueles, como esperado). Isso está coerente com o bom nível de escolaridade dos indivíduos da amostra (42,2% concluíram o ensino superior e 28,9% possuem curso de pós-graduação – ver Tabela 1).

Os resultados desse estudo indicam que a maioria dos respondentes tem bons conhecimentos financeiros aliados a situações equilibradas nas finanças pessoais. Alguns elementos de análise sugerem que o nível de educação financeira do grupo possa ser considerado satisfatório, entre eles: o plano de gastos e orçamento, que é realizado por 53,4% dos respondentes (entre sempre e quase sempre); o fato de que 88,9% cumprem (com ou sem dificuldades) seus compromissos de crédito; e o hábito de poupar (guardar recursos), onde 83,3% o tem (entre sempre, às vezes, e quando recebem aumento de salário).

Alguns dados observados são inquietantes, mas não chegam a prejudicar a avaliação satisfatória dada ao grupo. Tais dados referem-se a duas questões de poupança, na qual a primeira indica que 53,3 % dos indivíduos nunca, ou quase nunca, possuem uma reserva financeira que possa ser resgatada rapidamente, e a segunda, indica que 33,4 % dos indivíduos nunca, ou quase nunca, poupam regularmente para atingir objetivos financeiros de longo prazo. Essas duas questões servem para mostrar, respectivamente, a capacidade desses indivíduos em criar reservas de curto prazo para emergência e imprevistos, ou de longo prazo para objetivos como a educação dos filhos, aquisição de imóvel, ou construção de aposentadoria.

 

5 Considerações finais

Esse estudo partiu do pressuposto de que a alfabetização financeira é essencial para a boa administração das finanças pessoais, pois contribui para a formação de hábitos novos e saudáveis, permitindo não só uma vida financeira mais equilibrada, como possibilitando o desenvolvimento e a melhora na qualidade de vida dos indivíduos. Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo identificar e analisar a alfabetização financeira de um grupo de colaboradores da Sede Administrativa da Cooperativa de Saúde – Unimed Santa Maria em relação às suas finanças pessoais.

Os resultados e análises indicaram que a maioria dos indivíduos do grupo possui bons conhecimentos financeiros básicos e também avançados, embora os avançados sejam um pouco menores do que os básicos. Mas, conforme exposto no referencial teórico, não basta apenas ter o conhecimento sobre como gerenciar recursos financeiros. É necessário ter o comportamento efetivo para colocar o conhecimento em prática, habituando-se a controlar e planejar as suas ações financeiras, traçando estratégias e metas para alcançar seus objetivos de forma consistente. Reforçando tal colocação tem-se a citação de Potrich, Vieira e Kirch (2014), quando salientam que a educação financeira deve constituir uma combinação de consciência, conhecimento, habilidade, atitude e comportamento necessários para tomar decisões sólidas. É relevante destacar que nesse grupo a maioria possui nível superior completo, que se trata de um diferencial intelectual por si só, uma vez que denota uma parcela de vida relevante dedicada aos estudos, independente da área de atuação escolhida pelo indivíduo. Inclusive, no estudo realizado por Potrich (2016), a autora concluiu que quanto maior o nível de escolaridade dos indivíduos, maior é o seu nível de alfabetização financeira, corroborando os dados obtidos investigados nesse estudo.

Também se concluiu que a maioria dos colaboradores possui um plano de gastos, bem como consegue fazer alguma reserva de dinheiro. Contudo, para reservas de curto e longo prazos, as indicações mostraram-se um tanto quanto inquietantes, pois cerca da metade dos colaboradores tendem a não ter uma reserva de curto prazo, assim como cerca de um terço tende a não ter uma reserva de longo prazo. Sabe-se que dentro de uma estrutura financeira estável as reservas de curto prazo são muito importantes para situações de emergência ou imprevistos, pois sua ausência pode levar indivíduos a situações de crise, uma vez que diante de qualquer imprevisto que demande recursos financeiros, acabam recorrendo a instituições financeiras para contrair empréstimos ou financiamentos, pagando taxas de juros normalmente altas e ficando assim mais propensos ao endividamento, ou simplesmente perdendo o poder aquisitivo ao longo do período de pagamento de seus novos compromissos de crédito assumidos. Já no que tange as reservas de longo prazo, não as fazer implica na impossibilidade de conquistar objetivos maiores, como a aquisição de imóvel, construção de aposentadoria, ou pagamento de boa educação para os filhos. Inclusive, no que se refere a aposentadoria, atual foco de grande instabilidade política/popular no nosso país, e necessária ao equilíbrio da economia, deveria ter consideração especial nos planos financeiros de qualquer cidadão educado financeiramente.

Importante considerar que a alfabetização financeira é uma situação dinâmica, já que os mecanismos econômicos são variáveis, produtos novos de crédito e investimentos surgem com o passar dos anos, contendo variações que requerem atenção para poderem ser bem utilizados, as leis mudam, impactando nossas relações de trabalho e aposentadoria. Tudo isso requer acompanhamento constante por parte dos cidadãos que pretendem manter uma saúde financeira equilibrada e o mais longe possível de turbulências. Então, é necessário que a alfabetização financeira, e em especial o conhecimento financeiro, tenha manutenção permanente. O Banco Central do Brasil, através da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), oferece, com esse fim, cursos que visam incentivar indivíduos a aprofundarem seus conhecimentos na área financeira.

Isto posto, o objetivo do presente estudo foi alcançado, sendo possível concluir que, de um modo geral, o nível de educação financeira dos indivíduos avaliados é positivo e satisfatório, e que mantêm uma saúde financeira equilibrada.

 

Referências

 

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