Alimentando o mundo: Comemos o que exportamos e importamos
Ítalo Brener Carvalho
italobrener@hotmail.com
Douglas Silva Martins de Jesus
douglas.smdj@gmail.com
CEFETMG
Marcus Vinicius Almeida Lopes
marcusvalopes@outlook.com
CEFETMG
Yara Bertilie Rezende Caldas
yararezende10@hotmail.com
CEFETMG
RESUMO
O texto discute a importância das relações internacionais e do comércio internacional, abordando os desafios e benefícios da globalização. Destaca-se o processo de internacionalização das empresas, que envolve a expansão para além das fronteiras nacionais em busca de novos mercados. São apresentados os riscos envolvidos nesse processo, como diferenças culturais, políticas e cambiais, e a importância de uma estratégia de entrada adequada no mercado internacional. O setor agroalimentar é mencionado como um exemplo relevante da indústria brasileira, com destaque para o papel do Brasil na produção global de alimentos e nas exportações. O texto também destaca a importância do agronegócio na economia brasileira, tanto na produção de alimentos quanto na geração de empregos. Por fim, são mencionadas as políticas de importação e exportação do Brasil, que contribuem para fortalecer o agronegócio como um dos principais setores econômicos do país.
Palavras-chave: Agronegócio, Internacionalização, Globalização, Negócios Internacionais, Setor alimentar.
Alimentando al mundo: Comemos lo que exportamos e importamos
RESUMEN
El texto discute la importancia de las relaciones y el comercio internacionales, abordando los desafíos y beneficios de la globalización. Se destaca el proceso de internacionalización de las empresas, que implica la expansión más allá de las fronteras nacionales en busca de nuevos mercados. Se presentan los riesgos que implican este proceso, como las diferencias culturales, políticas y cambiarias, y la importancia de una adecuada estrategia de entrada en el mercado internacional. El sector agroalimentario se menciona como un ejemplo relevante de la industria brasileña, con énfasis en el papel de Brasil en la producción y exportación mundial de alimentos. El texto también destaca la importancia del agronegocio en la economía brasileña, tanto en la producción de alimentos como en la generación de empleo. Finalmente, se mencionan las políticas de importación y exportación de Brasil, que contribuyen a fortalecer la agroindustria como uno de los principales sectores económicos del país.
Palavras-chave: Agronegocios, Internacionalización, Globalización, Negocios Internacionales, Sector Alimentos.
Feeding the world: We eat what we export and import
ABSTRACT
The text discusses the importance of international relations and international trade, addressing the challenges and benefits of globalization. The process of internationalization of companies stands out, which involves expansion beyond national borders in search of new markets. The risks involved in this process are presented, such as cultural, political and exchange rate differences, and the importance of an adequate entry strategy in the international market. The agri-food sector is mentioned as a relevant example of Brazilian industry, with emphasis on Brazil's role in global food production and exports. The text also highlights the importance of agribusiness in the Brazilian economy, both in food production and job creation. Finally, Brazil's import and export policies are mentioned, which contribute to strengthening agribusiness as one of the country's main economic sectors.
Keywords: Agribusiness, Internationalization, Globalization, International Business, Food sector
De acordo com a Constituição Federal de 1988, as relações internacionais visam garantir a todos direitos básicos como a paz e a segurança internacional, além de englobar os desafios globais como o comércio internacional, a cooperação em questões ambientais e de saúde, a governança global e os direitos humanos. Muitas críticas giram em torno do que é proposto no que tange a aplicação prática, as críticas são pautadas no não cumprimento de alguns princípios estabelecidos, especialmente a não intervenção e a defesa da paz. Além disso, existe também a crítica em torno das relações de direitos humanos, além de uma postura mais isolacionista durante o avanço da globalização (Massaú, 2019).
O comércio internacional é uma forma de troca de bens e serviços entre países, que pode ser motivada pela busca por novas oportunidades de mercado e expansão de clientes, além de redução de custos e minimização de riscos econômicos e políticos. O processo supracitado apresenta diversos desafios, como a diversidade cultural, regulatória e de mercado, bem como riscos cambial, intercultural e comercial. Assim, pode-se entender que os negócios internacionais são as movimentações de empresas que ocorrem entre países distintos (Cavusgil et al., 2009).
Os principais modelos de negócios conhecidos são os de comércio e investimentos internacionais. O comércio diz respeito à transferência de bens e serviços por meio das fronteiras entre países, por exemplo: importação e exportação, venda e compra de bens e serviços de fornecedores do exterior e global sourcing. Já os investimentos, diz respeito a transferências e aquisições de ativos financeiros entre países (Cavusgil et al., 2009).
Nesse sentido, compreender a terminologia dos negócios internacionais é o objetivo deste artigo que perpassa principalmente por dois autores contemporâneos Dicken e Cavusgil et al., que organizam didaticamente o tema. Este trabalho utiliza o setor Agroalimentar como fonte de uma contextualização para que ao final seja possível apresentar premissas sobre o tema e sugestões de novas pesquisas.
METODOLOGIA
Com base em uma pesquisa exploratória descritiva, focada em uma revisão sistemática da literatura necessária para embasar e desenvolver preliminarmente o estudo do mercado global de alimentos agrícolas. De acordo com a definição de Marconi e Lakatos (2017), a classificação dos tipos de pesquisa depende do enfoque desejado pelo autor, levando em consideração a metodologia, situações e objetivos. Portanto, um dos principais tipos é a pesquisa descritiva, na qual os materiais obtidos fornecem uma descrição de um fenômeno já existente, com a análise das características e atributos observados pelo autor no contexto do trabalho realizado.
Quanto à abordagem do problema, essa pesquisa pode ser considerada qualitativa, pois não utiliza métodos estatísticos ou técnicas, analisando os dados de forma intuitiva. As pesquisas exploratórias são baseadas em levantamentos bibliográficos, como no artigo em questão, com a organização de ideias que promovem o pensamento crítico, sugestões de leituras e a produção de conhecimento que não é exaustivo ou conclusivo, uma vez que não envolve coleta empírica, confronto de dados ou entrevistas que possam subsidiar conclusões assertivas.
A GLOBALIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS
A globalização tem sido um fator determinante na expansão dos negócios internacionais, em particular na globalização de mercados. Dicken (2009) afirma que a globalização de mercados é impulsionada pela abertura de novas fronteiras comerciais, com o surgimento de novos mercados em países emergentes e a crescente liberalização do comércio mundial. Esse processo tem proporcionado novas oportunidades para as empresas expandirem seus negócios internacionalmente. Além disso, a globalização também está mudando a forma como as empresas competem no mercado internacional. (Akhtar et. al. 2018), a globalização está tornando a competição mais intensa e ampliando as fronteiras da concorrência para além das fronteiras nacionais.
Segundo Dicken (2009), a globalização é um termo que há muito tempo vem sendo utilizado de forma incoerente e mal compreendida, muitos utilizam para referenciar a algo recente e para definir várias das transformações que ocorrem todos os dias, sejam elas boas ou ruins. No entanto, o autor menciona a globalização como um processo de intensa interconectividade econômica e social entre os países, que permite a transação de bens e serviços de maneira facilitada. Além disso, ele nos traz uma visão global da economia que é marcada por desigualdades significativas, apresentando alguns pensamentos de outros intelectuais de como a globalização reforça a desigualdade de países emergentes e periféricos.
A ascensão de novas tecnologias causou grandes impactos na maneira como esse processo foi difundido pelo mundo, a intensificação da tecnologia transformou a comunicação nas rodovias da era da informação, equivalentes aos sistemas ferroviários no processo de industrialização, ou seja, a forma como evoluímos nesses canais, fizeram com que hoje as informações circulam em uma velocidade enorme e de forma cada vez mais democrática, intensificando também o fluxo de produtos e pessoas. Notamos que o desenvolvimento destas tecnologias impactou diretamente a interconectividade entre países e colaborou para que o processo de globalização ocorresse de forma tão desigual e rápida (Arocena, 2004).
A globalização não é a principal forma de organização econômica, fluxos de mercados e de competição entre empresas, mas sim, devido a esse processo houve a expansão de empresas multinacionais, de acesso ao consumo e de aumento da concentração do poder de compra. Principalmente concentrado na TRÍADE (América do Norte, Europa e Leste Asiático) corresponde a 86% do PIB mundial e são os maiores focos do Investimento Direto Estrangeiro (IDE).
O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS
No contexto do aumento da globalização e da regulamentação das relações internacionais é possível notar um processo importante em ascensão, conhecido como internacionalização das empresas. Segundo Dicken (2009), o processo ocorre quando as empresas decidem ir além das fronteiras nacionais, seja exportando/importando produtos relacionados a sua produção ou da criação de filiais em países estrangeiros, o principal objetivo é aumentar o alcance global, além de explorar novos mercados.
A internacionalização de mercados é um processo complexo e desafiador, especialmente em um contexto de globalização. Sendo assim, a internacionalização pode ser vista como uma forma de expandir as operações de uma empresa para além das fronteiras nacionais, buscando novos mercados e oportunidades de crescimento. No entanto, para ter sucesso nesse empreendimento, as empresas precisam levar em consideração uma série de fatores, como diferenças culturais, políticas e regulatórias (Cavusgil et al., 2009).
Um estudo realizado por (Akhtar et. al. 2018) destaca a importância da escolha da estratégia de entrada no mercado internacional. As empresas podem optar por diferentes modos de entrada, como exportação, joint ventures ou aquisições, cada um com suas vantagens e desvantagens. Portanto, é crucial que as empresas realizem uma análise cuidadosa do mercado-alvo e desenvolvam uma estratégia de entrada adequada, considerando as características e particularidades do mercado em questão.
É importante enfatizar o relacionamento entre empresas que atuam internacionalmente, governos e instituições globais. As empresas que operam em diferentes países podem ser afetadas por políticas governamentais e acordos internacionais, assim como os governos podem ser afetados pelas atividades dessas empresas. As empresas do agronegócio enfrentam desafios específicos ao entrar no mercado internacional, como barreiras fitossanitárias e regulamentações ambientais, que variam de país para país, tornando esse processo burocrático e exigindo planejamento dos executores (Cavusgil et al., 2009).
O comércio de mercadorias cresceu maciçamente desde meados do século XX, e o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) tem sido uma das principais razões para esse crescimento. Hodiernamente, a competição pelo domínio do mercado está esquentando, a velha Ordem Mundial está desmoronando e novas potências econômicas estão surgindo, como exemplo a China.
Figura 1
Gráfico da posição total de Investimento Direto Estrangeiro
Nota Gráfico extraído dos dados do Banco Central
Conforme é possível observar na figura 1, o crescimento constante da entrada de IDE no Brasil, mesmo em momentos de crise em que se esperava uma desaceleração da economia, devido ao aumento do risco por parte dos investidores, é possível notar um processo de entrada de capital estrangeiro no país, uma vez que esse capital ao entrar no Brasil influencia diretamente o crescimento do comércio internacional, promovendo uma expansão cada vez maior com os recursos disponíveis (Banco Central do Brasil, 2022).
RISCOS E VANTAGENS DA INTERNACIONALIZAÇÃO
Os negócios nacionais diferem-se dos internacionais, especialmente pelos riscos que regem as transações. Cavusgil et al. (2009), existem 4 tipos de riscos que permeiam a internacionalização. São eles: (1) O risco intercultural refere-se aos riscos ocasionados pela diferença cultural entre os países, como a forma de negociar, valores e crenças. (2) O risco-país são os riscos inerentes aos fatores políticos como questões sociais e governamentais. (3) O risco cambial são os riscos decorrentes da flutuação da taxa de câmbio. Por fim, (4) o risco comercial refere-se aos riscos decorrentes de estratégias mal formuladas, concorrências e problemas operacionais.
Sendo assim, os riscos apontados acima e que estão inerentes a todo processo de internacionalização podem ser evitados ao se estruturar um plano de internacionalização, que consiste em um estudo da atual situação da empresa para que seja possível elaborar um plano base de inserção. Algumas perguntas devem ser respondidas durante esse processo: “Porque exportar?”, “quem pode exportar?”, “para onde exportar?”, “quando exportar?”, “como exportar?”, “O que exportar?” e “para quem exportar?”.
Durante esse processo de conhecimento do ambiente, é necessário estar atento aos fatores que são inerentes a empresa, como fatores sociais, culturais, entre outros. O relatório do World Economic Forum (WEF) de 2023 aponta uma série de riscos para o curto e longo prazo, sendo eles: as oscilações inflacionárias, o aumento do custo de vida e dos confrontos geopolíticos, estes são tópicos apontados como os maiores desafios globais para 2023-2033. Os riscos são categorizados em riscos oriundos de condições ambientais, geopolíticas, sociais e tecnológicas conforme figura 2.
Figura 2
Tabela dos riscos globais classificados por gravidade no curto e longo prazo
Nota tabela adaptada do relatório World Economic Forum 2023
O relatório do WEF (2023) analisa o período de recuperação econômica da COVID-19, dentre outros fatores como o conflito entre a Rússia e a Ucrânia que aumentaram a inflação mundial, a crise de refugiados e uma crise global no custo de vida, alimentando a inquietação social. Diante desse cenário, em 2023, destacou-se o cenário pós pandêmico da COVID-19 como uma das maiores ameaças globais de curto prazo, com implicações significativas para a saúde pública, economia e sociedade.
A INDÚSTRIA AGROALIMENTAR
No contexto agroalimentar do Brasil, o país desempenha um papel fundamental na produção global de alimentos, exportando seus produtos para o mundo. Mesmo durante a pandemia da COVID-19, em que houve uma retração da economia global marcado por incertezas, o agronegócio brasileiro se destacou, com aumento nas exportações de produtos como algodão, soja e café. Os principais destinos dos alimentos que são exportados são a China, responsável por receber 39% das exportações brasileiras, a União Europeia, com 16%, e os Estados Unidos, com 6,6%.
Atualmente, o setor agropecuário representa 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o que equivale a um quinto de toda a economia do país. Essa indústria é responsável não apenas pela produção de alimentos, abrangendo áreas como pecuária, aves, ovos, suínos, mas também engloba o setor industrial, que processa esses alimentos, como a produção de enlatados. Além disso, o agronegócio incorpora outros setores, como fabricantes de máquinas, tratores, fertilizantes, arados e defensivos agrícolas. É importante compreender que a indústria agroalimentar é um setor amplo que abrange diversas áreas da economia.
Considerando o mercado de trabalho, estima-se que, em 2022, o agronegócio tenha empregado cerca de 18,97 milhões de pessoas, o que é um número significativo. Vale ressaltar que a população brasileira em 2022 era de aproximadamente 207,8 milhões, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso demonstra a relevância do setor agrícola como gerador de empregos no país.
Nesse contexto, entre 2020 e 2021 a balança comercial do agronegócio brasileiro reflete essa tendência global de foco em exportação, conforme a figura 3. O Brasil tende a importar produtos específicos, como frutas de inverno e chocolates importados, enquanto exporta em grandes volumes suas commodities produzidas internamente. Os produtos alimentícios que são importados para o Brasil estão sujeitos a altas taxas e impostos, essa regulamentação contribui para impulsionar a produção e exportação de alimentos nacionais, fortalecendo o agronegócio como um dos principais pilares da economia brasileira.
Figura 3
Gráfico da Balança Comercial do Agronegócio
Nota Gráfico extraído dos dados do Banco Central
O setor agrícola possui uma cadeia de produtos e fornecedores bastante estruturada, apesar da participação expressiva de pequenos produtores nestas cadeias produtivas, eles geralmente não conseguem atender às demandas dos negócios internacionais devido à falta de volume. A maioria das exportações é dominada por grandes empresas que executam suas operações globalmente, não localmente (De Oliveira, 2012). Essas empresas, muitas vezes, utilizam fazendas industriais e empregam cada vez menos pessoas, devido à automação e uso de máquinas. Portanto, a inovação e utilização de novas tecnologias que garantem essa transformação na produção, estão se expandindo para o campo.
No agronegócio, além dos desafios advindos das altas demandas, uma importante preocupação é a respeito das regulamentações fitossanitárias, juntamente com outras condições específicas do mercado estrangeiro em questão. As empresas do agronegócio podem aproveitar a expansão internacional e se tornarem mais competitivas no mercado global por meio de uma estratégia bem planejada e implementada. A adoção de tecnologias inovadoras, como agricultura de precisão e inteligência artificial, pode melhorar a eficiência e produtividade das operações. É fundamental que as empresas invistam em pesquisa e desenvolvimento, buscando novas formas de produção e agregação de valor aos produtos.
Ademais, a distribuição de produtos agrícolas apresenta muitos desafios, especialmente por serem produtos muito perecíveis. A validade desses produtos é altamente volátil, exigindo uma organização minuciosa para que cheguem aos consumidores finais com prazo de validade adequado. Em uma reportagem para a Globo, produtoras rurais do norte da Bahia que cultivam mamão compartilham o processo produtivo e logístico para a distribuição do alimento. A cadeia de distribuição e produção envolvida é complexa, pois o mamão amadurece ao longo do transporte, tornando-se comestível no momento certo ao chegar para consumo nos mercados. Essa sensibilidade é ainda mais evidente no setor de carnes, onde há uma demanda por transporte refrigerado para garantir a qualidade dos produtos.
A logística e o controle de qualidade desempenham um papel crucial na exportação de produtos agrícolas, uma vez que os padrões e regulamentos internacionais são rigorosos. Além disso, o governo atua ativamente para garantir uma taxa de câmbio favorável aos exportadores, equilibrando o interesse em manter o dólar em um nível que beneficie a competitividade sem prejudicar a economia. É uma tarefa delicada encontrar o equilíbrio adequado, considerando os diversos interesses envolvidos. No entanto, essas medidas são importantes para sustentar o setor agrícola brasileiro e impulsionar suas exportações, garantindo que produtos de alta qualidade cheguem aos mercados internacionais.
OS PLAYERS DO SETOR AGROALIMENTAR
Cavusgil et al. (2009) identifica os participantes dos negócios internacionais de acordo com suas atividades na cadeia de valor: fornecedores, fabricantes, distribuidores e clientes. Esses grupos desempenham papéis distintos, mas complementares, na criação e distribuição de produtos e serviços. As empresas focadas em negócios internacionais buscam expandir suas operações além das fronteiras nacionais, através da exportação, criação de subsidiárias no exterior ou parcerias com empresas estrangeiras. No entanto, as empresas do agronegócio enfrentam desafios específicos ao entrar no mercado internacional, como barreiras fitossanitárias e ambientais, que variam de país para país, exigindo planejamento e esforços burocráticos adicionais.
Os intermediários do canal de distribuição também são participantes importantes nos negócios internacionais. Eles fornecem serviços de distribuição física e marketing dos produtos. Existem três tipos de intermediários: baseados no mercado externo, baseados no país de origem e operando pela internet (Cavusgil et al., 2009). Os intermediários baseados no mercado externo atuam como parceiros locais dos exportadores, enquanto os baseados no país de origem concentram-se na importação de produtos e matérias-primas. Os intermediários online desempenham um papel de intermediação entre a empresa e o cliente, utilizando marketplaces e facilitando a comunicação. Além dos intermediários, os facilitadores dos negócios internacionais são essenciais para o bom andamento das transações comerciais. Eles oferecem suporte para transações complexas, como provedores logísticos, despachantes aduaneiros, bancos comerciais e advogados.
Independentemente da estratégia escolhida, as empresas que desejam entrar no mercado estrangeiro devem considerar uma série de fatores, incluindo a cultura local, a legislação e as regulamentações governamentais, as condições econômicas e a concorrência local. Além disso, é importante adaptar a estratégia de entrada ao tipo de produto ou serviço oferecido, quando falamos do agronegócio, as regulamentações fitossanitárias são essenciais para a operação, bem como às demais condições específicas do mercado estrangeiro em questão.
Com uma estratégia cuidadosamente planejada e implementada, as empresas do agronegócio podem aproveitar a expansão internacional para crescer e se tornar mais competitivas no mercado global. A adoção de tecnologias inovadoras, como a agricultura de precisão e a inteligência artificial, podem ajudar as empresas a melhorar a eficiência e a produtividade de suas operações. Logo, é fundamental que as empresas do agronegócio invistam em pesquisa e desenvolvimento, buscando novas formas de produção e de agregação de valor aos seus produtos.
A TECNOLOGIA UTILIZADA NO AGRONEGÓCIO
A mudança tecnológica no agronegócio vem desde 1960 quando ocorreu a revolução verde. Essa revolução começou com o intuito de mitigar os problemas advindos principalmente dos países mais pobres, que seria, por exemplo, as questões de valores nutricionais, dos alimentos e da quantidade de variedade de grãos. Ela propiciou a mecanização do trabalho agrícola, levando a uma produtividade maior, e facilitou, por exemplo, a aplicação de defensivos e fertilizantes, quando tudo era manual houve a mecanização.
Essa revolução foi uma mistura da revolução industrial com a vinda da biotecnologia, principalmente para trazer a variedade de grãos básicos, por exemplo, arroz e trigo. Essa mudança tecnológica gerou impacto, principalmente na mão de obra, a tendência é que se tenha grandes fazendas com grandes maquinários e quanto mais o tempo passa, menos gente tem. Antes era tudo feito pelos agricultores, fazendo tudo manualmente e a tendência é que sejam todos substituídos pelas máquinas.
Com a evolução da tecnologia, hoje a gente já está com uma perspectiva bem mais avançada, visto que hoje nós temos a inteligência artificial também no agronegócio. Já existem casos de carnes que são criadas todas artificialmente totalmente sintéticas. Isso nos leva a refletir sobre os impactos que podem causar, como a questão ambiental e a questão de mão de obra, logo tudo ao redor é impactado.
Harari (2018), argumenta que a tecnologia está mudando não apenas a economia e a política, mas também a própria natureza humana, e que precisamos repensar nossas instituições e nossos valores para lidar com essas mudanças, além de que o crescimento econômico não pode ser explicado apenas pelo aumento dos fatores de produção, como capital e trabalho, mas também pela mudança tecnológica. A tecnologia influencia diretamente o modo como produzimos hoje, tornando esse processo cada vez mais flexível, modular e rápido, fazendo com que produzimos cada vez mais de forma mais integrada com diferentes mercados, intensificando um processo de descentralização da produção, uma vez que as empresas decidem internacionalizar seus mercados.
BRASIL E O CENÁRIO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL DO CAFÉ
O Brasil é um dos principais exportadores e produtores de café no mundo, possuindo, mesmo que tímida, participação nas importações, além de ser o 3° país no mundo que mais consomem o café, ficando atrás apenas da União Europeia e dos Estados Unidos da América (SECEX, 2023).
Diante do contexto, analisando as exportações do café não torrado, o Brasil encontra-se na 3° colocação no ranking nas exportações do setor agropecuário como geral, no período de janeiro a abril de 2023, e em 11° no ranking das exportações totais, nos dados consolidados.
Figura 4
Gráfico Exportações - principais regiões no mundo
Nota principais regiões exportadoras do mundo retirado do SECEX 2023
Desta forma, as maiores participações no período analisado são dos Estados Unidos com 18,2%, com variação de -27,5% em comparação com 2022, seguido da Alemanha com 15,8% e com variação de -46% do período anterior.
De acordo com a figura 5 verifica-se as maiores participações nas exportações dos estados brasileiros. Logo, o estado de Minas Gerais no período de janeiro a abril de 2023 é o maior exportador de café com 78,7%, seguido de São Paulo e Espírito Santo, isto é, as maiores exportações do Brasil na atualidade pertencem a região Sudeste.
Figura 5
Exportações por UF: Jan-Abr 2023
Nota gráfico retirado do SECEX 2023
De acordo com Gama (2021), é mostrado na figura 6 os maiores produtores de café no mundo no período de 2016/2017 até 2020/2021. Logo, podemos observar que o Brasil se encontra como o maior produtor de café no mundo nos momentos observados, com folga substancial, seguido do segundo colocado Vietnã, e depois, Colômbia, Indonésia e Etiópia.
Figura 6
Volume total de café produzido no Brasil e nos maiores países produtores no mundo
Nota Gama (2021).
Além disso, de acordo com Franco (2022) outro tipo de café exótico produzido no Brasil, é um tipo especial conhecido como Café Jacu ou Jacu Bird Coffee. Esse café é do tipo arábica produzido a partir de fezes dessa ave, além de ser predominante nas regiões sul e sudeste, nas regiões de Mata Atlântica (Figura 7).
Figura 7
Ave Jacu
Nota Franco (2022).
Ademais, segundo Franco (2022) essa inspiração em produzir café a partir de resíduos de aves, veio de inspiração do café Kopi Luwak produzido na Indonésia de um mamífero conhecido como Civeta (Figura 8). No entanto, infelizmente esses animais são mantidos em cativeiros para a exploração do café.
Figura 8
Mamífero Civeta
Nota BBC News Brasil (2016).
Conforme Castelli (2022) o café Jacu possui alto valor comercial assim como o café Kopi Luwak, sendo que este é considerado o café mais caro do mundo, possuindo aparecendo de frutas vermelhas menos amargas e com menos acidez, com um sabor exótico parecido com chocolate misturado com suco de uva. Seu valor comercial nos Estados Unidos na década passada chegou a custar US$90,00 por cada porção. A vantagem do café Jacu (Figura 9) é sua capacidade de realizar processamento natural pelo seu processo digestivo. Ambos os frutos após a colheita são passados pelo processo de torrefação com temperaturas a 180° a fim de eliminar quaisquer seres patogênicos (Franco, 2022).
Figura 9
Resíduos do café Jacu
Nota (Franco, 2022).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal deste artigo consistiu em analisar de forma abrangente o agronegócio brasileiro no contexto do mercado internacional. Para tanto, foi conduzida uma pesquisa sistemática da literatura, buscando compreender tanto o conceito de internacionalização quanto a atuação específica do Brasil na produção global de café, uma commodities na qual o país se tornou referência.
No contexto da literatura acadêmica, a investigação da internacionalização de mercados desempenha um papel crucial no avanço do conhecimento, bem como na identificação de soluções para os desafios, riscos e estratégias que envolvem as novas formas de fazer negócios na era da globalização, dada a sua complexidade (Dicken, 2009). A partir dessa análise, pode-se concluir que, embora existam riscos inerentes à expansão multinacional em países subdesenvolvidos e com diferentes culturas, como as questões regulatórias, também há vantagens em ampliar os mercados para regiões pouco exploradas ou pouco desenvolvidas, além dos benefícios proporcionados pela redução dos custos de mão-de-obra.
No que diz respeito ao setor agroalimentar, é importante destacar que ele apresenta uma demanda de alto volume, sendo atendido tanto por grandes produtores quanto por pequenos agricultores. Além disso, a aplicação de tecnologias de ponta, como a inteligência artificial e a agricultura de precisão, tem contribuído para a modernização dessa área. Com essas novas possibilidades tecnológicas, o setor agroalimentar tem experimentado um crescimento significativo e alcançado alta eficiência e qualidade em suas operações. Portanto, considerando a expansão contínua do agronegócio, aliada ao desenvolvimento tecnológico e à alta demanda tanto no mercado interno quanto externo, tornam-se evidentes diversas oportunidades para empresas atuarem como produtores locais e expandirem seus negócios no âmbito internacional.
REFERÊNCIAS
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